25 de novembro de 2015

O problema do mal (1/2)


Vamos deixar claramente afirmado aqui que o problema do mal pode ser resolvido de uma maneira honesta e franca propondo-se que, se Deus decide predestinar ou decretar males específicos, por qualquer propósito que possa ter, quem somos nós para discutir com  Deus (Romanos 9: 19-24)? Contudo, não importa quão aborrecido isso possa ser para mente carnal, Deus é o ponto de referência para tudo que é bom, não eu, um pecador. Se já houve uma aplicação prática da oração de Jesus não seja feita a minha vontade, mas a sua (Lucas 22:42), foi esta. O bem é bom porque Deus determina assim, não porque ele se ajusta à minha irrelevante concepção inata de como as coisas deveriam ser. É totalmente fora de propósito que eu possa pessoalmente preferir que as coisas sejam de modo diferente. O sofrimento humano é um corpo de dados que deve ser interpretado de acordo com as pressuposições antes que ele possa ser entendido em qualquer sentido. Ele não significa nada por si mesmo, não obstante quão horrível nós o possamos achar.

 Antony Flew, em God and Philosophy, reivindica que “definir bondade em termos da vontade de Deus” é “romper totalmente com todos os padrões ordinários tanto do significado como da moralidade”. É também “reduzir sua religião à adoração do poder infinito em si” (parágrafo 2.46, p. 50). Relutantemente ele admite que “dependendo, é claro, do grau em que você está preparado  para fazer isso, pode não haver para você nenhum problema do mal” ( parágrafo 2.47, p.51).

Mas os “padrões ordinários” do bem e do mal são exatamente os que estão sendo questionados pelo cristão que quer que o incrédulo desista de si  mesmo como padrão final e clame a Deus por justiça. Isso não é um problema para o cristão. Ao contrário, é o ponto principal da chamada do evangelho ao arrependimento. Um arrependimento que não toca nas suposições controladoras de uma pessoa e demasiadamente superficial para valer a pena. Com relação a nossa “[adoração] do poder em si”, esta é uma deturpação estranhamente reducionista de nossa posição, que no mesmo capítulo ele esteve ansioso para mostrar, que tem implicações internas importantes muito além da soberania criada  ‘per  se’.

Flew dificilmente consegue esconder a sua ira (ou repugnância) para com aqueles de nós que sustentamos essa posição, mas ele está determinado a ser franco a respeito do que isso significa. Ele admite novamente que, se Deus é o seu próprio para o bem, isso oferece uma solução decisiva para o problema do mal (parágrafo 5.21, p. 109). Mas ele não pode parar por aí. Ele deve fazer essa admissão parecer demasiada e horrivelmente dúbia para ser atraente. Ele insinua que ela  não é “decente” (p.50), e logo depois “desconfortável” e o “último refúgio” da apologética (p.51). Ele chega a invocar a autoridade de Piaget chamando-a de “infantil”. Anteriormente ele havia chamado de “górdia”, uma referência à história grega a respeito de Alexandre, que resolveu o problema de como desatar o nó misterioso cortando a corda arbitrariamente (p. 110).

Mas meus argumentos não cortaram nenhuma corda. Eu simplesmente discordo do dogma humanista da autonomia do pensamento humano, nos quais estão todas as objeções a Deus. Para os crentes não há, em primeiro lugar, nenhuma necessidade aceitar o amarrar do nó. É somente o autonomismo que faz o nó parecer necessário.

Mesmo  um teísta como  Antony Flew pode perceber que o problema do mal não é um problema para alguém que simplesmente confia em Deus. Essa foi a resposta de Jó aos seus “confortadores”, que insistiam em que ele devia ter feito algo terrível para que fosse tratado daquela forma. Deus respondeu-lhe do redemoinho fazendo-lhe simplesmente a pergunta: Onde estava tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? (38:4). Essa foi também a resposta de Paulo em Romanos 9: 19-20.

Deus nunca teve dúvida de que Jó era de fato um homem extraordinariamente reto, embora pelos padrões de Deus todos são pecadores e que, por justiça estrita, todos fazem jus à morte. E Jó concordou com isso. Anteriormente ele já havia observado à sua incrédula esposa que é bom pra nós aceitarmos as coisas boas de Deus, devemos estar dispostos a aceitar as adversidades também. As boas dádivas que Deus lhe havia dado tanto podiam ser dadas por Deus como tomadas por ele (1.21). Jó sustentou a posição correta na questão da soberania: Bem sei que tudo podes e nenhum de seus planos pode ser frustrado (42.2). Parece que Jó não era arminiano!






Autor: R.K. MacGregor Wright
Trecho extraído do livro A Soberania Banida, pág 213-215.  Editora: Cultura Cristã