12 de fevereiro de 2016

A natureza apostólica dos dons espirituais de 1 Coríntios 12 (1/4)


INTRODUÇÃO

O assunto sobre os dons espirituais ainda continua sendo um dos mais difíceis por falta de dados abundantes no Novo Testamento sobre o assunto. Entende-se que, mesmo com pouca informação escriturística, tudo o que temos é suficiente para não sermos abandonados nas trevas do pentecostalismo antigo ou moderno, nem cometermos o sacrilégio de tornar a verdade de Deus em mentira. As páginas das Escrituras do Novo Testamento deixaram muitas informações exegéticas preciosas sobre os dons espirituais, que têm sido negligenciadas, ignoradas e pervertidas por homens perversos que tentam substituir a revelação na Palavra por uma religião puramente humana. Este trabalho é o início de uma jornada, ainda inacabada, na pesquisa bíblica sobre os dons da era apostólica. Com humildade, quero mostrar que a tão antiga “verdade pentecostal” ainda continua sem fundamento bíblico. Desejamos de coração que, ao ler essas poucas linhas, a igreja de Cristo se fortaleça contra a mentira e toda a farsa de uma religião humana que tem se alastrado pelo Brasil e pelo mundo, conduzindo vorazmente uma grande multidão ao erro e a uma religião não bíblica.

O que é um dom apostólico? 

Dons apostólicos são dons dados por Deus a um grupo de indivíduos que foram chamados para a atividade profética de receber a revelação da Nova Aliança, transmiti-la e inscriturá-la infalivelmente, sendo assistidos com credenciais miraculosas para atestar como verdade os oráculos divinos para judeus e gentios agora dentro de uma única Igreja. Na Nova Aliança Deus escolheu os ofícios de apóstolo e profeta para lançar o fundamento canônico dessa aliança (Ef 2.20; 3.5), e escolheu os espirituais (pessoas que tinham dons apostólicos sem ofício) para revelar e ensinar os oráculos divinos infalivelmente, (1Co 12.37). Para isso, Deus deu dons de palavra para a comunicação da verdade revelada e dons de milagres para a atestação da verdade revelada. Esses dons de milagres foram chamados também de credenciais apostólicas, (2Co 12.12). Com exceção dos dons de “socorros” e “governos”, o restante da lista dos dons de 1 Coríntios são dons apostólicos. Dessa forma, os dons espirituais apostólicos obedecem a seguinte ordem:

DONS DE PALAVRA DE COMUNICAÇÃO INDIRETA: dom inspirado para revelar ideias e produzir Escritura. Esses são: sabedoria e conhecimento.

DONS DE PALAVRA DE COMUNICAÇÃO DIRETA: dom inspirado de comunicação verbal para revelar palavras e produzir Escritura. Esses dons são: profecia, línguas, interpretação de línguas, discernimento de espírito.

DONS DE CREDENCIAIS: dom inspirado, que revela a certeza do milagre, faz do crente um canal do poder miraculoso para realizar a vontade de Deus e atestar como verdade infalível a mensagem apostólica entre judeus e gentios; não produz Escritura porque é credencial da Escritura. Nessa classe estão: dons de curar e operações de milagres.

Os dons da lista de 1 Coríntios 12:8-11

Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.

PALAVRA DE SABEDORIA
(logo sofia)

Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria.

A expressão logo sofia só ocorre neste local, e encabeça a lista dos dons, assim como “apóstolo” encabeça a segunda lista no v. 28. É possível que Paulo esteja associando em grau de importância “palavra de sabedoria” com apóstolo e profeta.A grande importância desse dom para a igreja apostólica era o fato de que, depois da morte de Cristo, era necessário que essa morte fosse interpretada como a morte redentiva do Salvador do mundo; era necessário que fosse dada sabedoria aos apóstolos e profetas para interpretar a redenção nos moldes do que temos hoje nas epístolas e escritos do Novo Testamento. Isso significa que a igreja primitiva tinha que conviver com as mesmas verdades divinas que convivemos hoje no Novo Testamento. Como eles não tinham as Escrituras do Novo Testamento, tinham os apóstolos e profetas, a quem era dado a revelação para expor a “sabedoria” que outrora estava oculta. Enquanto hoje temos toda a história e interpretação do mistério de Cristo escritos, nossos irmãos primitivos tinham o dom de sabedoria pra conhecer tudo sobre Cristo que conhecemos hoje nas páginas do Novo Testamento.

PALAVRA DE CONHECIMENTO
(logos guinoseôs)

E a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento.

Podemos dizer que o dom da ciência ou palavra de conhecimento era um dom produto da profecia (13.2), sempre citado entre os dons revelacionais voltados para a instrução e edificação (14.6), e que cessaria com o término dos dons revelacionais como línguas e profecias (13.8). Ora é citado como instrumento de revelação (14.6), ora é citado como o próprio conteúdo da revelação (13.2). Para Charles Hodge,5 a “palavra de conhecimento” era o dom dos mestres do NT. Ele define esse dom como sendo o dom de “entender corretamente e apresentar apropriadamente as verdades reveladas pelos apóstolos e profetas”.6 É possível que tal dom seja a capacidade dada pelo Espírito aos mestres que deveriam ensinar a Igreja numa época em que o NT ainda não tinha sido escrito, e esses mestres dependiam da palavra revelada, o que compunha o conteúdo da tradição apostólica em forma oral. A palavra de conhecimento seria, certamente, compreender a profecia dada ao profeta (o profeta não necessariamente não deveria entendê-la), inseri-la num grande arcabouço doutrinário orgânico, lógico e coeso com todas as outras verdades já reveladas, interpretando-a em harmonia com toda a tradição apostólica. O dom de conhecimento era a capacidade espiritual de ensinar autoritativa e infalivelmente as verdades recém-reveladas aos apóstolos e  profetas, para suprir as mesmas necessidades espirituais que hoje existem na Igreja moderna, e que são supridas com as Escrituras do Novo Testamento sobre as questões da Nova Aliança. É o dom de entender a revelação ainda sem um corpo pronto (ou seja, o Cânon), e ainda assim interpretá-la em conexão com as outras partes desse corpo, sem contradição, correlacionando-a com verdades ainda vindouras e com as outras partes do cânon que viriam.

A palavra de conhecimento era compreender a profecia em uma amplitude maior, mais profunda, e interligada com toda a verdade autoritativa da Nova Aliança, aptidão essa que o profeta não tinha. É possível compreender o dom de conhecimento como “um cânon ambulante” das Escrituras do Novo Testamento enquanto as partes (evangelhos e epístolas estavam sendo escritos). Mesmo sem um cânon escriturado, os crentes primitivos tinham, através dos mestres, acesso às mesmas verdades escrituradas que temos hoje.






Autor: Moisés Bezerril
Divulgação: Reformados 21