3 de fevereiro de 2016

O dom de línguas (4/4)


5. UMA ANÁLISE HISTÓRICA E TEOLÓGICA DA CESSAÇÃO DAS LÍNGUAS

Na terceira parte deste ensaio, afirmei que o dom de línguas foi concedido e restrito ao período apostólico. Tendo cumprido o seu propósito na história, com a expansão da igreja no mundo, e a conclusão do cânon das Escrituras, as línguas não foram mais necessárias e, portanto, cessaram. Quero elencar, pois, quatro argumentos que comprovam a cessação das línguas. Senão vejamos:

1) As línguas eram um dom miraculoso, e a fase dos milagres também cessou no período apostólico

No pentecostes, os apóstolos foram miraculosamente capacitados pelo Espírito Santo a falar em idiomas estrangeiros que desconheciam. Isso foi um milagre excepcional! O mesmo ocorreu com outras pessoas que falavam apenas um idioma e foram capacitadas sobrenaturalmente por Deus a falar em outras línguas que desconheciam (veja At 10.44-46; 19.1-7). Todavia, o último milagre registrado no Novo Testamento foram as curas de Paulo e do pai de Públio na ilha de Malta, por volta do ano 58 d.C. (At 28.1-10).   
  
Do ano 58 ao 96, quando João escreveu o livro de Apocalipse, nenhum milagre foi registrado. Os dons de milagres, como o de línguas e curas, são mencionados apenas em 1 Coríntios, uma das primeiras epístolas a ser escrita. Duas epístolas posteriores, Efésios e Romanos, versam cabalmente sobre os dons do Espírito — no entanto, não fazem qualquer referência aos dons de milagres. Naquele momento, os dons miraculosos já eram considerados pertencentes ao passado (Hb 2.3-4). A autoridade e a mensagem dos apóstolos não precisavam mais de confirmação. Antes do fim do século 1, todo o Novo Testamento estava escrito e circulava pelas igrejas. Os dons de revelação haviam cumprido seu propósito e cessaram. Ao findar a era apostólica, com a morte de João, os sinais identificadores dos apóstolos já tinham se tornado questionáveis (2Co 12.12).46  

Embora os dons de cura e milagres tenham cessado, Deus, ainda hoje, cura e realiza milagres como resposta de oração. Deus não confere mais os dons de cura e milagres a pessoas individuais como Pedro e Paulo como no período apostólico. Algumas curas e milagres que ocorreram após o século 1, e que ocorrem atualmente, são orações de crentes que são respondidas pelo agir soberano de Deus.   
             
2) As línguas foram um sinal do juízo de Deus para os judeus incrédulos

John MacArthur sintetiza:

Deus havia começado uma nova obra que incluiria os gentios. O Senhor falaria agora a todas as nações em suas línguas. As barreiras foram derrubadas. Assim, o dom de línguas simbolizava não apenas a maldição divina sobre a nação desobediente, mas também a bênção de Deus sobre o mundo todo.

As línguas eram, portanto, o sinal da transição entre a Antiga e a Nova Aliança. Com o estabelecimento da igreja, um novo dia raiou para o povo de Deus. Ele se comunicaria em todas as línguas. Contudo, uma vez que o período transicional passasse, o sinal se tornaria desnecessário.47  
      
Palmer Robertson complementa:

As línguas serviram para demonstrar que o cristianismo, embora procedente do judaísmo, não deveria ser distintivamente judeu. [...] Agora que a transição [entre a Antiga e a Nova Aliança] estava completa, o sinal da transição não tinha mais valor permanente para a vida da igreja. Hoje, não há necessidade de um sinal para comprovar que Deus está se movendo de uma única nação, Israel, para lidar com todas as nações. Esse movimento tornou-se um fato consumado. Assim como ocorreu com o ofício dos apóstolos como lançadores dos alicerces da igreja, assim também o dom transicional de línguas cumpriu a função de sinal da aliança para o povo de Deus da Antiga e da Nova Aliança. Havendo desempenhado seu papel, ele não tinha mais utilidade entre o povo de Deus.48  

3) O dom de línguas era inferior à profecia 

O objetivo das línguas, primordialmente, era servir como um sinal (14.22), e não podia edificar a igreja de modo adequado, pois, na maioria das vezes, era usado erroneamente para a edificação pessoal, e não coletiva (14.4). A igreja existe e se reúne para cultuar a Deus com o propósito da edificação coletiva, e não para a satisfação pessoal através de experiências espirituais. A utilidade das línguas na igreja era transitória e, portanto, não era um dom permanente.

4) A história assegura a cessação das línguas 

As línguas são mencionadas apenas em Marcus, Atos e 1 Coríntios. Nas outras doze cartas que escreveu, Paulo não faz menção das línguas. Da mesma forma, Pedro, Tiago, João e Judas também não mencionaram nada sobre as línguas em suas cartas.

As línguas foram conferidas para um breve período. Logo que a igreja se estabeleceu, não houve mais a necessidade das línguas. Elas cessaram. Livros após a fase apostólica também não mencionam nada acerca das línguas. Crisóstomo, um dos pais da igreja, asseverou que as línguas cessaram em sua época, no século 4. Ele descreveu as línguas como uma prática incerta, e declarou:

O obscurecimento é produzido por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, pois eles ocorriam anteriormente, mas não ocorrem em nossos dias.49

Agostinho, um dos maiores teólogos da história da igreja, escreveu sobre as línguas como um sinal remoto aos apóstolos. Ele disse:

Nos primeiros anos, “o Espírito Santo desceu sobre os que creram, e eles falaram em línguas” que não haviam aprendido, “conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”. Esses sinais eram adequados aquele momento, pois era necessário haver aquele sinal do Espírito Santo em todas as línguas, para mostrar que o evangelho de Deus deveria ser comunicado em todas as línguas da terra. Isso foi realizado como um pressagio e, então, desapareceu.50

Continuando, Agostinho disse ainda:

Ora, irmãos, se alguém foi batizado em Cristo e crê nele, mas não fala nas línguas das nações, devemos afirmar que essa pessoa não recebeu o Espírito Santo? Deus não permita que nosso coração seja tentado por essa infidelidade. [...] Por que será que ninguém fala nas línguas das nações? Porque a própria igreja fala agora as línguas das nações. Anteriormente, a igreja era uma única nação, onde se falava nas línguas de todos. Por falar nas línguas de todos, isso significava o que viria a acontecer: ao crescer entre as nações, ela falaria as línguas de todos.51

Não obstante, a história relata que, nos primeiros 500 anos da igreja, apenas pessoas que seguiam movimentos heréticos e fanáticos como o montanismo, Jansinismo e os shakers, “falaram em línguas”. Apesar de ser continuacionista, Carson admite que “pelo menos em relação à igreja primitiva, parece que as línguas eram extremamente raras depois do início do segundo século”.52 W.A. Criswell corrobora:

Na longa história da igreja, depois dos dias dos apóstolos, onde quer que o fenômeno da glossolalia surgisse, era encarado como uma heresia. A glossolalia foi, sobretudo, confinada aos séculos 19 e 20. Mas, independentemente de onde e como surgiu, ela nunca foi aceita pelas igrejas históricas da cristandade. Foi universalmente repudiada por essas igrejas como aberração doutrinária e emocional.53 

Thomas R. Edgar tece uma observação crucial:

Visto que esses dons e sinais cessaram, recai totalmente sobre os carismáticos [pentecostais e neopentecostais] o dever de provar a validade de seus dons. Por muito tempo, os cristãos têm presumido que os não pentecostais e neopentecostais devem apresentar evidências bíblicas incontestáveis de que os dons de sinais miraculosos teriam de cessar. Entretanto, os nãos carismáticos não têm que provar nada, pois seus postulados já foram comprovados pela história. Isto é um fato irrefutável, admitido por muitos pentecostais. Assim, os neopentecostais devem comprovar biblicamente que os dons de sinais ressurgiram na era da igreja e que os fenômenos contemporâneos são esse ressurgimento. Em outras palavras, eles precisam provar que suas experiências comprovam o ressurgimento dos dons inativos por quase 1900 anos.54

Portanto, desde Montano até a Rua Azuza, todas as manifestações de línguas não foram consideradas genuínas, mas sim, como uma falsificação do verdadeiro dom de línguas.
          
 E AS NOVAS LÍNGUAS?     

O dom de línguas não ressurgiu com o movimento pentecostal, no final do século 19? E o fenômeno das línguas atuais? É verdadeiro ou falso?     
  
Indubitavelmente, as “línguas” faladas hoje são falsas! A glossolalia moderna é uma deformação, pois não demonstra nenhum idioma verdadeiro. É simplesmente uma invenção de palavras inexistentes; é falar de maneira ininteligível.   Depois de alguns anos pesquisando sobre a glossolalia atual, e visitando segmentos pentecostais e neopentecostais em vários países, o professor de linguística da universidade de Toronto William Samarin, concluiu:

Não há mistério sobre a glossolalia. Amostras gravadas são fáceis de se obter e analisar. Elas sempre acabam por ser a mesma coisa: sequências de sílabas, compostas de sons retirados de todos aqueles que o orador conhece, reunidos mais ou menos ao acaso, mas que, no entanto, surgem como unidades semelhantes a palavras e frases por causa do realismo, do ritmo e da melodia semelhante à linguagem. Glossolalia é, de fato, como a linguagem, em alguns aspectos, mas isso é só porque o orador [inconscientemente] quer que seja como linguagem. No entanto, apesar das semelhanças superficiais, a glossolalia não é fundamentalmente uma linguagem. Todos os tipos de glossolalia que já foram estudados não produziram recursos que cheguem a sugerir que eles refletem algum tipo de sistema de comunicação. [...] Glossolalia não é um fenômeno sobrenatural. [...] Na verdade, qualquer um pode produzir glossolalia se for desinibido e descobrir qual é o truque.55

Em contrapartida, diferente da xenoglossia [idiomas estrangeiros], a glossolalia falada pelos pentecostais e neopentecostais produz sensações agradáveis. Muitos afirmam que a vida cristã se tornou melhor quando passaram a falar em línguas. Geralmente os relatos são similares. Um testemunho fictício esboça um pouco da experiência de "falar em línguas". Mariana declara: 

Quando comecei a falar em línguas, me senti mais renovada! Tornei-me uma pessoa melhor; sou mais alegre e sinto uma paz interior inexprimível! Sou mais perceptiva a presença de Deus. Eu era uma pessoa fraca; hoje, me sinto forte e capacitada espiritualmente para fazer a obra de Deus!    
         
A evidência para confirmar relatos dessa natureza é duvidosa! Alguém poderia atestar, com integridade, que aqueles que falam em línguas vivem para Cristo de forma mais piedosa do que aqueles que não falam em línguas? As “igrejas” neopentecostais são mais sólidas e espiritualmente superiores que as demais igrejas de crentes tradicionais que não falam em línguas?  O que dizer, então, dos inúmeros escândalos envolvendo pregadores, pastores e cantores neopentecostais que, nestes últimos anos, demonstraram ser moralmente corrompidos pelo pecado? Aliás, escândalos que foram comprovados por investigação policial!   

E o que dizer de crentes que cessaram de “falar em línguas” e relataram que, desde então, não sentiram mais alegria, paz, poder e renovo espiritual enquanto não abandonaram o pentecostalismo e, especialmente, o neopentecostalismo? Por que, na maioria das vezes, a experiência de fazer parte do movimento neopentecostal redunda, com o passar do tempo, em decepção? A medida que as experiências místicas se tornam mais difíceis de repetir-se, e as “bênçãos do evangelho da prosperidade triunfalista” são vetadas, a tendência à frustração e ao desligamento destas “igrejas” se torna inevitável.

Apesar de sustentaram muitos benefícios espirituais que o falar em línguas promove, os pentecostais e neopentecostais referem-se ao efeito que a experiência produz neles, e não como a experiência faz com que se tornem crentes melhores, mais bíblicos e mais equilibrados. Todavia, o resultado externo que estas experiências subjetivas produzem no corpo não demonstra novo nascimento ou conversão. O verdadeiro crente é identificado pelas boas atitudes e por sua observância aos preceitos das Escrituras.

Não obstante, os pentecostais e neopentecostais não podem ratificar que as línguas que praticam correspondem ao verdadeiro dom de línguas descrito no Novo Testamento. Desde então, não surgiu nenhum caso verdadeiro de que um pentecostal ou neopentecostal tenha falado em um idioma humano traduzível.

O linguista William Samarin disse que é muito duvidoso que os casos alegados de xenoglossia [línguas estrangeiras] entre os carismáticos sejam verdadeiros. Sempre que se tenta verificá-los, descobre-se que os relatos foram muito distorcidos ou que os “testemunhos” são incompetentes ou não confiáveis do ponto de vista linguístico.56 Uma vez que não possuem evidências de que as línguas modernas correspondem ao verdadeiro dom de línguas, os pentecostais e neopentecostais somente declaram que "falam em línguas". Portanto, como explicar e entender o fenômeno das novas línguas? Existem três maneiras. Vejamos, pois:   
          
1) As línguas modernas podem ser de origem demoníaca

Não creio que todas as manifestações de falsas línguas hoje podem ser atribuídas a influência do diabo. Por outro lado, estou cônscio de que Satanás encontra-se muitas vezes por trás de fenômenos que são atribuídos a obra do Espírito Santo. Creio que muitos crentes são influenciados pelo diabo a falar em “falsas línguas”. Satanás está por trás da falsa religião (1Co 10.20), e sua maior artimanha é fraudar a verdade (2Co 11.13-15). Por negligenciarem o estudo das Escrituras, muitos crentes são enganados pelo diabo através de doutrinas e práticas heréticas (1Tm 4.1).

As línguas extáticas são comuns nas religiões pagãs. Há registros da África Oriental em que pessoas possessas por demônios falam fluentemente em suaíli ou inglês, embora em circunstâncias normais essas línguas não sejam entendidas. Entre o povo tonga (África), quando um demônio é exorcizado, geralmente canta-se uma música em zulu, ainda que os tongas não entendam zulu. O exorcista supostamente fala em zulu por um “milagre das línguas”.

Hoje, as línguas extáticas são encontradas entre muçulmanos, esquimós e monges tibetanos. Um laboratório de parapsicologia da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia relata casos de pessoas que falam em línguas entre os praticantes do ocultismo.

Esses são uns poucos exemplos da tradição multissecular da glossolalia que continua hoje entre pagãos, hereges e ocultistas. A possibilidade de influência satânica é uma questão séria, e não deveria ser descartada irrefletidamente pelos carismáticos. 57   
    
2) As línguas modernas podem ser uma prática aprendida

Acredito que a maioria dos crentes que falam em “línguas” se enquadra nessa categoria. Existem pastores que ensinam como falar em “línguas”. Certa vez, em um culto de “busca do Espírito Santo” numa IEQ [Igreja do Evangelho Quadrangular], o pastor solicitou que aqueles que falavam em línguas fossem a frente do “altar” e fizessem uma roda, e os que não falavam em línguas se adentrassem nela.   
  
Em seguida, o pastor orientou aos que não falavam em línguas a fecharem os olhos e rogarem a Deus que fossem “batizados com o Espírito Santo” e falassem em línguas. Feita a oração, o pastor instruiu os que não falavam em línguas a vociferarem continuamente glória, glória, glória, até falarem em línguas. Enquanto não falassem, não poderiam cessar o brado. Esta era a “receita” para se falar em línguas, ou seja, glorificar a Deus! Isto durou cerca de 20 minutos. Porém, ninguém dentro da roda alegou ter falado em “línguas”.

No livro The Psychology of Speaking in Tongues (A Psicologia de Falar em Línguas), John Kildahl concluiu, após estudar exaustivamente sobre o assunto, que a glossolalia é uma habilidade aprendida. Estudos psicológicos demonstram que, mesmo com uma instrução mínima, qualquer pessoa pode aprender a falar em “línguas”.

3) As línguas modernas podem ser induzidas psicologicamente

John MacArthur esclarece:

Alguns dos casos mais estranhos de falar em línguas foram explicados como aberrações psicológicas. Quem fala em línguas entra no automatismo motor, que é descrito clinicamente como o desligamento radical e íntimo da pessoa em relação àquilo que a rodeia. O automatismo motor resulta na dissociação de quase todos os músculos voluntários do controle consciente.

Você já viu alguma reportagem mostrando jovens adolescentes em shows de rock? Devido à emoção, ao ardor e ao barulho, eles abrem mão do controle voluntário das cordas vocais e dos músculos. Caem ao chão como em um ataque.

A maior parte das pessoas, em uma ocasião ou outra, passa por momentos em que se sente um pouco desligada, aturdida e fraca. Sob certas condições, particularmente quando há grande fervor emocional, uma pessoa pode passar com facilidade a um estado em que perde o controle consciente do corpo. A glossolalia pode resultar desse estado.58

A euforia que muitos [não todos] sentem quando falam em línguas pode estar relacionado à hipnose. “A possibilidade da hipnose constitui o elemento indispensável da experiência de glossolalia. Se alguém pode ser hipnotizado, ele se encontra nas condições adequadas para falar em línguas”.59

Muitos crentes são instruídos explicitamente por líderes religiosos que possuem algum conhecimento de hipnose a submeterem-se à “renúncia passiva do controle de si mesmos”. Eles são orientados a se libertarem de si mesmos e a não resistirem ao controle da voz. Desse modo, os crentes são treinados a pronunciarem poucas sílabas e permitirem a fluência, isto é, não pensarem no que estão dizendo, mas apenas dizer.

Charles Smith, falecido dirigente do Master’s Seminary, nos EUA, escreveu sobre o fenômeno moderno da glossolalia. Ele disse que as línguas podem ser produzidas por “automatismo motor”, “êxtase”, “hipnose”, “catarse psíquica”, “psique coletiva” ou “estímulo da memória”.60    

Estudos psicológicos confirmam que pessoas ingênuas, passíveis de sugestões, e dependentes de pessoas, como líderes espirituais, são as mais capacitadas a falarem em línguas. É importante ressaltar que nem todas as pessoas que falam em línguas se encontram nessa categoria; entretanto, a maioria delas se enquadra perfeitamente na indução psicológica.  
          
Diante de tudo, é impossível fugir desta realidade: As novas línguas não correspondem ao verdadeiro dom de línguas descrito na Escritura. Na verdade, estas línguas são uma fraude!


CONCLUSÃO

Antes da expansão do movimento pentecostal, que se deu por ocasião do evento na Rua Azuza, nos EUA, bem no início do século 20, os primeiros pentecostais, como Charles Fox Parham e Agnes Ozman, pensaram que haviam recebido do Espírito Santo a habilidade sobrenatural de falar em línguas estrangeiras.  

Os primeiros pentecostais acreditavam que a glossolalia foi dada à igreja com o propósito de evangelizar o mundo. Muitos deles foram para campos missionários estrangeiros esperando plenamente que o Espírito Santo lhes desse a língua dos povos nativos de forma sobrenatural. A expectativa inicial e a experiência resultante foram uma amarga decepção para aspirantes a missionários que não quiseram investir em anos de estudo de outro idioma.61   

Quando perceberam que as línguas que falaram eram falsas, os primeiros pentecostais foram obrigados a fazer uma escolha. Eles poderiam continuar falando em falsas línguas e fingir que elas correspondiam ao verdadeiro dom de línguas, apesar da evidência que demonstrava o contrário, ou poderiam criar uma nova definição das línguas para sanar o fracasso de suas experiências no campo missionário. Eles escolheram redefinir o significado das línguas. Falar de maneira ininteligível e irracional é a explicação pentecostal e neopentecostal para o “dom de línguas” contemporâneo. 
  
Uma palavra final de encorajamento aos meus irmãos pentecostais e neopentecostais que falam em “línguas”

Para os irmãos pentecostais e neopentecostais que leram atentamente este ensaio, entenderam todas as implicações, concluíram que as línguas que são faladas hoje são uma fraude, e que falam estas “línguas”, meu conselho é que vocês suprimem este hábito equivocado de uma vez por todas! Não é pecado nem, tampouco, “esfriar espiritualmente”; pelo contrário, agir assim denota amadurecimento espiritual nesta questão.

As falsas línguas não produzem fervor espiritual. Um crente fervoroso é alguém que vive uma vida de comunhão com Deus em oração, leitura, meditação e estudo das Escrituras e obediência aos preceitos Deus; um crente fervoroso é alguém que é ativo no serviço cristão e usa seus dons para a edificação da igreja; um crente fervoroso é alguém que, sobretudo, ama os seus irmãos.

Meu desejo e minha oração é que este ensaio possa esclarecer muitos irmãos pentecostais e neopentecostais em relação às falsas línguas. Que muitos destes irmãos possam aprender a serem crentes mais equilibrados e amantes não somente das Escrituras, mas, principalmente, do Deus que as Escrituras nos apresentam.








NOTAS:   

46. John MacArthur. Caos Carismático, pág 306-307.
47. Ibid, pág 308.    
48. Palmer Robertson. The Westminster Theological Journal 38, pág 56.
49.  Chrisóstomo. Homilies in First Corinthians, pág 168.
50. Agostinho. Homilies on the First Epistle of John, pág 97.     
51. Agostinho. Lectures or tractates on the gospel according to St. John, pág 195.
52. D. A. Carson. A manifestação do Espírito. A contemporaniedade dos dons à luz de 1 Coríntios 12-14, pág 168.
53. W. A. Criswell. Facts Concerninting Modern Glossolalia, em The Holy Spirit in today Church, pág 90-91.  
54. Thomas R. Edgar. The cessation of the sign gifts, pág 374.
55. William Samarin. Tongues of men and angels, pág 227-228.
56. Ibid, pág 112-113. 
57. John MacArthur. Caos Carismático, pág 319.
58. Ibid, pág 322.
59. John Kildhal. The psychology of speaking in tongues, pág 54. 
60. Charles Smith. Tounges in biblical perpective, capítulo 5.
61. Kenneth L. Nolen. Encyclopedia of Psychology and Religion, pág 349. 




Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21