9 de março de 2016

Pecados ou Demônios?


Dentre as várias heresias difundidas pelo movimento de batalha espiritual surgido na década de 60, nos Estados Unidos, que teve Peter Wagner como seu maior expoente, temos a crença nos espíritos da luxúria, do homossexualismo, dos vícios, da enfermidade, da inveja, da depressão e muitos outros.     

Vemos nas igrejas de viés neopentecostal, adeptas do herético movimento de batalha espiritual místico e gnóstico, nos populares cultos de libertação, orações de guerra em que os pastores e crentes lutam amarrando e repreendendo os tais espíritos supramencionados de suas vidas, da vida de familiares, amigos e de pessoas que estão sendo evangelizadas, mas que ainda não aceitaram Jesus porque estão aprisionadas por esses demônios. A guerra com os espíritos do adultério, da prostituição, da enfermidade e dos vícios não se limita apenas nos cultos de libertação, mas se estende na rotina do crente neopentecostal. É uma batalha diária, alegam os teólogos deste movimento infausto, execrável.     

Todavia, se nos atentarmos diligentemente para as Escrituras, para o Novo Testamento, constataremos que não existe um texto sequer que aponte que luxúria, homossexualismo, vícios e doenças sejam demônios. Jesus e os apóstolos não exorcizaram tais espíritos malignos. Pelo contrário, adultério, prostituição e inveja, por exemplo, são classificados como pecados da carne (Gl 5.19-21; 1Pe 2.1).

Augustus Nicodemus Lopes corrobora que os demônios denominados pela batalha espiritual como sendo demônios da lascívia, do ódio, da vingança, da embriaguez, da inveja e assim por diante, não aparecem no Novo Testamento. Essas coisas são, na verdade, as obras da carne mencionadas por Paulo em Gálatas 5.19-21. A solução para esses pecados não é expulsar demônios que supostamente os produzem, mas arrependimento, confissão e santificação.1

Vejamos o que outros textos da Escritura ensinam sobre os pecados da carne, que são denominados como espíritos malignos pelos neopentecostais e também por muitos pentecostais.

Tiago 1.14-15 – Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça [não por demônios, porém eles podem influenciar na tentação, o que é diferente de cobiça ser um demônio] sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte. (NVI)

O pecado deriva do coração do homem corrompido pela queda, que, por sua vez, é a fonte de toda imundice e de onde emana todos os desejos pérfidos.

Jesus disse:

Mateus 5.18-19 – Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e são essas que tornam o homem ‘impuro. Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. (NVI)

Conforme Jesus salientou, maus pensamentos, adultérios e imoralidades sexuais não são demônios, mas pecados oriundos de nossa natureza pecaminosa não redimida. 

Vejamos ainda outro exemplo descrito por Paulo:

1 Coríntios 5.1-5  Por toda parte se ouve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre os pagãos, a ponto de alguém de vocês possuir a mulher de seu pai. E vocês estão orgulhosos! Não deviam, porém, estar cheios de tristeza e expulsar da comunhão aquele que fez isso? Apesar de eu não estar presente fisicamente, estou com vocês em espírito. E já condenei aquele que fez isso, como se estivesse presente. Quando vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor. (NVI)

Podemos observar que não somente nas cartas de Paulo, mas em todo o Novo Testamento, os escritores sacros enfatizam mais a questão de pecados da carne do que espíritos malignos ou possessão, mesmo que existem casos de possessão e de espíritos malignos atuando na vida de uma pessoa. Conforme é dito no texto, um jovem que fazia parte da igreja de Corinto estava mantendo relações sexuais com a mulher de seu pai, isto é, a sua madrasta.

Apesar desse pecado, o apóstolo não disse que esse jovem estava possuído ou influenciado pelo espírito da imoralidade, nem tampouco ordenou que exorcizassem o demônio da prostituição, mas que o entregassem a Satanás, ou seja, que ele fosse expulso da comunhão da igreja para ser disciplinado por Deus através de Satanás, para que se arrependesse do seu pecado e retornasse a fé. A fornicação é um pecado contra o nosso corpo, que é o templo do Espírito Santo (veja 1Co 6.18-20).

A crença de que pecados da carne são demônios é nocente para a igreja porque suprime a ética, isto é, a maneira adequada que devemos proceder baseados na Escritura. É mais fácil expulsar os demônios dos pecados sexuais, dos vícios do que tratá-los como pecados que necessitam de arrependimento, confissão e abandono. Transferir a própria culpa para um suposto espírito maligno é pomo de uma consciência alienada de Deus e obscurecida pelas heresias. Apesar de Satanás influenciar perversamente todas as esferas do mundo, tentando-nos a pecar contra Deus (Lc 4.13), todo pecado é proveniente da nossa natureza humana corrompida, o que chamamos de corrupção radical (Tg 1.13-15; 1Tm 6.9)

Finalmente, afirmamos que as supostas “orações de libertação” que os pastores e crentes fazem expulsando demônios que na verdade são pecados da carne é antibíblico, herético e, portanto, um hábito que deve ser peremptoriamente rejeitado.  




NOTA:

1. Augustus Nicodemus Lopes. O que você precisa saber sobre Batalha Espiritual, pág 69.



Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21