15 de abril de 2016

Quebra de maldições: É Bíblica?


Uma das tendências da batalha espiritual, (inconsciente, quero crer) é adicionar à obra de Cristo uma complementação feita por peritos em "maldições". É ensinada claramente a necessidade de se quebrar maldições hereditárias e de se anular compromissos que ficaram pendentes com o diabo, mesmo após a pessoa ter sido convertida a Cristo. Ensina-se que herdamos as maldições que acompanharam nossos antepassados, por causa de seus pecados e pactos demoníacos, e que precisamos anulá-las.

Êxodo 20 e Ezequiel 18

Geralmente o texto usado para defender este ponto é Êxodo 20.5, em que Deus ameaça visitar a maldade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração dos que o aborrecem. Entretanto, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as consequências dos pecados dos pais, é só metade da verdade revelada.

A Escritura nos diz igualmente que se um filho de pai idólatra e adúltero ver as obras más de seu pai, temer a Deus e andar em seus caminhos, nada do que o pai fez virá a cair sobre ele. A conversão e o arrependimento individuais "quebram'', na existência das pessoas, a "maldição hereditária" (um efeito somente possível por causa da obra de Cristo). Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao povo de Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18). A nação de Israel havia sido levada em cativeiro para a Babilônia, e os judeus cativos se queixavam de Deus dizendo Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos é que se embotaram... (Ez 18.2b) – ou seja, nossos pais pecaram, e nós é que sofremos as consequências. Eles estavam transferindo para seus pais a responsabilidade pelo castigo divino que lhes sobreveio, que foi o desterro para a terra dos caldeus. Achavam que era injusto que estivessem pagando pelo pecado de idolatria dos seus pais. Usavam um provérbio da época, que nos nossos dias seria mais ou menos assim: Nossos pais comeram a feijoada, mas nós é que tivemos a dor de barriga ...

Através do profeta Ezequiel, Deus os repreendeu, afirmando que a responsabilidade moral é pessoal e individual diante dele: A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai ... (Ez 18.4b, 20). E que pela conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre da "maldição" dos pecados de seus antepassados (ver 18.14-19). Esta passagem é muito importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus interpreta (através de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5. Ou seja, o segundo mandamento prevê a visitação do juízo divino sobre os descendentes de homens ímpios, descendentes estes que aborrecem a Deus como seus pais. Várias passagens no próprio Pentateuco deixam claro que a retribuição divina sobre os filhos dos que aborrecem a Deus é descontinuada a partir do momento em que estes filhos se arrependem de seus próprios pecados, e os confessam a Deus, confessando igualmente os pecados de seus pais, como Levítico 26.39-42.

Encontramos a mesma ideia em Números 14.13-34. Nesta passagem vemos claramente como a misericórdia e a longanimidade de Deus atuam em conjunto com sua justa ira contra os rebeldes e pecadores. Após a revolta do povo de Israel contra Deus, inflamados pelo relato desanimador do dez es­pias incrédulos, o Senhor Deus condenou aquela geração in­crédula a perecer no deserto. Seus filhos haveriam de levar sobre si as infidelidades de seus pais, até que estes morressem (v.33), após o que, os filhos entrariam na terra (v.31). Aplicando aos nossos dias, fica evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado e com as implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados quando, arrependido, veio a Cristo em fé.



Autor: Augustus Nicodemus Lopes
Trecho extraído do livro O que você precisa saber sobre Batalha Espiritual, pág 49-51. Editora: Cultura Cristã