27 de junho de 2016

As Ramificações do Pecado de Adão


O pecado formal de Adão contra Deus foi o da desobediência. Todavia, a desobediência não foi um pecado isolado no episódio do jardim, no qual estavam envolvidos também Eva e a serpente. No entanto, esse pecado foi o resultado de uma série de coisas que foram maquinadas no coração de Adão antes que ele resolvesse obedecer ã sua mulher e desobedecer a Deus. O pecado da desobediência foi acompanhado de ramificações que podem ser percebidas quando examinamos o contexto de tudo o que aconteceu no jardim de Deus.

Embora os pecados descritos a seguir não sejam explicitados na Escritura, uma boa análise do que se deu no jardim de Deus nos aponta seus vestígios, ainda que de forma incipiente.

1. O ato de desobediência de Adão teve nascedouro na sua rebelião

A desobediência é um pecado de rebelião. Quando uma pessoa desobedece ã lei de Deus ela está dizendo, em outras palavras, que não concorda com as regras estabelecidas. Quando existe a desobediência, a rebelião é notória. Pink diz que “qualquer que seja o ato de desobediência, ele é um ato de rebelião contra o legislador; é uma renúncia da sua autoridade”.92

Não podemos precisar como uma rebelião pôde acontecer no coração de alguém que era santo. É possível que, ao estar presente enquanto Eva estava sendo tentada,93 ali mesmo o veneno das promessas de Satanás a Eva tenha entrado no seu coração e ali se aninhado. Não sabemos como, mas ele deve ter dado guarida às sugestões malignas e, quando o fruto lhe foi oferecido por Eva, ele comeu. A rebelião de Adão só pode ser explicada pelo desejo que ele veio a ter de ser conhecedor do bem e do mal, à semelhança de Deus. É possível que ele não se tenha conformado com a ideia de que Deus não queria que ele fosse conhecedor, como Deus, de todas as coisas boas e más. Daí, sua desobediência de rebelião contra o modo de Deus estabelecer suas regras.

Quando quebramos as leis de Deus, seja em ações ou em pensamentos, somos culpados de rebelião contra a autoridade de Deus sobre nós. Somos culpados de lutar contra Deus. Quando egoisticamente escolhemos os nossos próprios desejos e modos ao invés dos de Deus, honramos a nós próprios acima de Deus e somos culpados de brincar de Deus.94

Adão havia sido posto por Deus como o cabeça representativo de sua família e de toda a sua progênie. Ou seja, se Adão tivesse obedecido, a sua descendência receberia bênçãos como fruto de sua obediência. No entanto, a sua desobediência também trouxe desgraça para ela. A sua rebelião se tornou muito cara para si mesmo e para toda a raça. Isso pode ser demonstrado nos textos do Novo Testamento, especialmente nos escritos de Paulo. Adão imergiu não somente a si, mas toda a raça humana na miséria por causa do seu pecado de desobediência.

A rebelião de Adão foi um ato acompanhado de vários outros sentimentos até entendidos por nós, que temos as mesmas motivações em nossas atitudes pecaminosas. O que se passou no coração de Adão não é estranho a nós, ainda que nunca tenhamos tido um coração santo como o de Adão, pois somos já concebidos como pecadores e nascemos em iniquidade.

2. O ato de desobediência de Adão tem a companhia do seu egoísmo

A desobediência foi um pecado de egoísmo. A outra faceta do pecado que culminou na desobediência formal de Adão pode ter sido o egoísmo. “O egoísmo é realmente uma das raízes iniciais do pecado em nossa vida”.95 Desde pequeninos começamos a pensar mais em nós mesmos do que nas outras pessoas. Nós somos a pessoa mais importante do mundo.

Adão comeu do fruto proibido porque preferiu as suas próprias leis as leis de Deus. Pink diz que “Adão foi punido porque ele deu preferência à sua própria vontade”,96 e não à de Deus. Ele preferiu se satisfazer a satisfazer a Deus. Provavelmente ele não compreendeu plenamente que a satisfação da vontade de Deus acaba sendo a nossa própria satisfação.

O egoísmo faz com que todas as coisas girem em torno de nós próprios. Por isso, sempre pensamos em ter a melhor parte para nós. Quando sou confrontado com duas escolhas, eu escolho aquela que mais me beneficia. Na verdade, o que um egoísta faz é ignorar a Deus porque, em última instância, ele faz do seu eu o próprio deus. Os interesses do seu eu estão acima dos desejos de Deus. Todavia, este é o raciocínio do homem caído, e Adão ainda não tinha caído.

A coisa difícil é entender como um homem santo, criado à perfeita imagem de Deus, teve tais sentimentos de egoísmo.

3. O ato de desobediência de Adão tem a companhia de sua cobiça

A desobediência foi um pecado de cobiça. De alguma forma, podemos dizer que houve insatisfação pelo modo como Deus os havia feito. Após as insinuações maldosas de Satanás, Adão acabou raciocinando que ele tinha menos do que deveria ter.

Adão desobedeceu a Deus porque ele quis ter mais do que Deus lhe havia dado. Ele não se conformou com o que havia recebido. Ele queria mais. Queria satisfazer aos próprios desejos egoístas. É como se ele tivesse dito para si mesmo: “Eu vou fazer as coisas da forma como eu quero fazer. Vou fazê-las a meu modo.” Ele não levou em conta o que Deus lhe tinha dito. O que lhe importava era o que ele passou a querer depois de ouvir as sugestões malignas da serpente. Ele desejou para si o que não lhe era permitido.

A Escritura afirma que os seres humanos pecam porque já são pecadores. Veja o que Tiago diz:

Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte (Tg 1.14-15).

Dá para entender que você e eu tenhamos cobiça, pois ela é fruto de um coração pecaminoso e praticamente origina todos os outros pecados. Mas não dá para entender como um homem santo desejou mais do que Deus lhe havia dado. Como Adão, com a imagem perfeita de Deus, foi tão cobiçoso, satisfazendo aos seus desejos egoístas? Afinal de contas, ele não possuía natureza pecaminosa.

4. O ato de desobediência de Adão tem a companhia de sua soberba

Pessoalmente creio que Adão era puro em seus sentimentos com relação a Deus. A princípio, ele respondia perfeitamente á revelação geral e especial de Deus no Éden. Não podemos dizer que ele tinha sentimentos maus desde o início.

Todavia, a partir de sua presença na conversa de Eva com a serpente, algumas coisas começaram a mudar no seu íntimo. De maneira não compreensível a nós, o veneno do orgulho foi manifesto no coração de Adão. A ingratidão e a insatisfação podem dar surgimento ao orgulho, pois a partir das sugestões do Maligno, ele começou a perceber em seu coração que poderia ser maior do que era.

Aceitando a sugestão do Maligno, ele quis ser igual ao seu Criador. Aliás, esse parece também ter sido o desejo e o pecado de Satanás. Paulo sugere, escrevendo a Timóteo, que o pecado de Satanás foi a soberba.

Falando a respeito das qualificações morais e das dotações dos presbíteros, Paulo diz que o presbítero não deve ser “neófito”.

... para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo (1Tm 3.6).

Satanás não se contentou em ser o único a pecar soberbamente. Ele foi condenado por sua soberba, ou seja, por seu desejo de querer ser maior do que era, provavelmente o desejo de ser igual a Deus; foi esta a sugestão que ele deu a Eva, sugestão que o próprio Adão escutou. Satanás quis que o homem e a mulher, coroa da criação, também pecassem da mesma forma.

A desobediência de Adão teve como precedente a soberba. Adão desobedeceu a Deus porque não se contentou em ser apenas um jardineiro ou mesmo corregente de Deus. Ele queria ter a honra de ser o chefe de todas as coisas, equiparando-se ao Criador.

5. O ato de desobediência de Adão tem a companhia de sua ingratidão

Creio não haver nenhum engano em dizer que o pecado da ingratidão apareceu pela primeira vez, ainda que não de forma explícita, já no jardim do Éden. Houve ingratidão, por parte de Adão, contra aquele que o havia abençoado e capacitado para exercer a grande obra de cuidar de toda a criação. Adão (com Eva) foi o mais privilegiado entre os seres humanos e o único a viver numa terra absolutamente perfeita, onde os animais eram mansos e viviam harmonicamente; onde as árvores eram absolutamente lindas e sem qualquer destruição; onde os rios corriam docemente, sem que houvesse neles qualquer poluição; onde não havia nenhuma mancha de destruição ecológica.

Em termos de relacionamento, não havia nenhum ciúme ou qualquer outro tipo de corrupção. Adão foi o único a viver num ambiente perfeitamente idílico com sua esposa, sem que houvesse qualquer quebra de relacionamento entre eles. Foi o único homem que viveu em perfeita harmonia com sua mulher neste mundo, até que o pecado entrou na vida deles.

A ingratidão nasceu misteriosamente no coração do primeiro homem. É difícil crer como alguém tão perfeitamente criado tenha se rebelado ingratamente contra o seu santo Criador!

Adão não contou as bênçãos ao agir de modo rebelde contra o Senhor. Ele pensou mais em si mesmo do que em Deus; pensou mais na execução da sua vontade do que na vontade de Deus. Quando os homens agem assim, eles têm a tendência de mostrar ingratidão àquele que tanto os abençoa. Foi o que Adão fez!

6. O ato de desobediência de Adão tem a companhia de sua incredulidade

Em seu ato de desobediência, Adão mostrou-se desafiador à palavra divina. Ele não creu na ameaça divina de que ele morreria se comesse do fruto proibido. Talvez, por detrás de todos os nossos pecados, esteja escondida sempre uma nesga de incredulidade. Se Adão houvesse crido na palavra divina, ele não faria o que fez nem teria os sentimentos malignos que teve.

Certamente houve incredulidade, por parte de Adão, na verdadeira palavra de Deus, e podemos afirmar que houve uma certa crença na palavra de Satanás.

E, por fim, houve a desobediência, que foi a reta final do pecado do qual toda a raça participou.

Muita coisa está envolvida na transgressão de Adão, que foi, em última instância, a quebra dos mandamentos de Deus e que o levou à morte.



NOTAS:

92. A. W. Pink, Gleanings From the Scriptures: Man's Total Depravity (Chicago, ILL: Moody Bible Institute, 1969, p.25).
93. O assunto da presença de Adão enquanto Eva estava sendo tentada já foi tratado no capítulo anterior deste livro.
94. Williann C. Nichols, num estudo sobre The Nature of Sin, http;//www. intoutreach.org/sin.html.
95 William C. Nichols, num estudo sobre The Nature of Sin, http://www. intoutreach.org/sin.html.
96 A. W. Pink, Gleanings From the Scriptures: Man's Total Depravity (Chicago, ILL: Moody Bible Institute, 1969, p.25). 



Autor: Heber Carlos de Campos
Trecho extraído do livro O Habitat Humano: O Paraíso Perdido, Pág 152-158. Editora: Hagnos